O que são tecnologias?
O que são tecnologias?
Que imagens vêm à sua cabeça quando pensa na palavra “tecnologia”?
É comum que surjam dispositivos eletrônicos, principalmente celulares. Algumas pessoas tendem a falar em robôs. Certa vez fiz essa pergunta numa escola e me responderam: Japão. A colonização do nosso imaginário chegou ao ponto em que falar em tecnologia faz pensar automaticamente em ferramentas digitais distantes de nós e, comumente, associada a alguma grande empresa.
Resultado da pesquisa por imagens referentes a "Tecnologia" no buscador DuckDuckGo.
No entanto, tecnologia é um termo que se refere a qualquer técnica, processo, método ou dispositivo utilizado para a realização de um objetivo. Seu intuito, parafraseando Abdias do Nascimento, seria “existir como sustentáculo para a consagração de homens e mulheres em sua condição de ser”. Nesse sentido, um smartphone é sim uma tecnologia, mas não mais do que um forno, um flutuante ou a receita de uma maniçoba. As tecnologias estão em tudo que buscamos fazer por nós e por nossas comunidades.
Isso nos leva a outro ponto importante sobre elas: Toda tecnologia é uma composição de relações. Uma cristalização das interações entre agentes humanos (operadoras/es, usuárias/os, proprietárias/os) e não-humanos (matérias primas, componentes, micro-organismos, entidades) que produzem um efeito direcionado para alguma finalidade. Dessa maneira, a diferença de uma enxada para uma colheitadeira não está apenas na complexidade do equipamento. Cada uma delas propõe relações diferentes com a terra e com as pessoas que as operam. São ainda componentes de outros complexos tecnológicos, a agricultura familiar e o plantation, respectivamente. Portanto, nenhuma tecnologia é neutra, tampouco depende apenas do nosso uso para exercer um propósito.
Lembrar desses pontos é fundamental num momento em que muito se discute sobre o papel das tecnologias para combater as grandes catástrofes produzidas nas últimas décadas, com destaque para a crise climática. Em meio a esse burburinho se fala em “tecnologias para a Amazônia”, “desenvolvimento tecnológico para combater a crise climática” sem um mínimo de transparência sobre quais as relações que se pretende estabelecer nos territórios e os problemas de quem essas iniciativas buscam resolver. Enquanto isso, povos que em nada contribuíram para essas catástrofes (e que foram violentados no processo de produzir elas) são cobrados a aceitar sem reflexão a entrada de dispositivos e processos que reproduzem as violências e a rapinagem histórica nos territórios amazônicos.
Reconhecer nossa própria história de desenvolvimento tecnológico e retomar o poder sobre nossas tecnologias é portanto, um movimento fundamental de soberania. Entendendo do que de fato se tratam as diversas tecnologias existentes e desenvolvendo um olhar crítico sobre elas, temos a possibilidade de favorecer as formas de relação que realmente queremos em nossos territórios. A partir daí é que teremos instrumentos para fugir às tecnologias de morte que nos são empurradas diariamente e podemos focar em produzir outras dinâmicas que sejam condizentes com a vida.
Detalhes do comentário
Concordo em número e grau. A naturalização desses agenciamentos colonizadores é uma forma de manipulação cultural quase terrorista (com do devido respeito ao sentido do termo nos tempos atuais) em que as grandes corporações acentuam suas atuações em prol de cooptação quase inconsciente de agentes pelas redes sociais.